Tempo Litúrgico: Quaresma - Cor Roxa
Na linguagem corrente, a Quaresma abrange os dias que vão da Quarta-feira de Cinzas até ao Sábado Santo. Contudo, a liturgia propriamente quaresmal começa com o primeiro Domingo da Quaresma e termina com o sábado antes do Domingo da Paixão.
A Quaresma pode se considerar, no ano litúrgico, o tempo mais rico de ensinamentos. Lembra o retiro de Moisés, o longo jejum do profeta Elias e do Salvador. Foi instituída como preparação para o Mistério Pascal, que compreende a Paixão e Morte (Sexta-feira Santa), a Sepultura (Sábado Santo) e a Ressurreição de Jesus Cristo (Domingo e Oitava da Páscoa).
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Setembro: mês da Bíblia
Setembro é o Mês da Bíblia para os católicos. O Mês da Bíblia surgiu há 40 anos, em 1971, por ocasião do 50º aniversário da Arquidiocese de Belo Horizonte. Desde então tem destacado a importância da leitura, do estudo e da contemplação das Sagradas Escrituras. Na verdade, o Mês da Bíblia contribuiu muito para o desenvolvimento da Pastoral Bíblica no âmbito paroquial e diocesano. Em 2011, o texto proposto para ser aprofundado no estudo bíblico é Ex 15,22-18,27.
O Livro do Êxodo: Roteiros para Encontros
“A caminhada no deserto”
Uma introdução a Êxodo 15, 22 - 18, 27
As narrativas em torno do Êxodo são muito conhecidas. Ao sair do Egito, o povo atravessa o deserto. Nessa travessia, as pessoas enfrentam várias dificuldades para sobreviver. Esse relato pode ser dividido em seis unidades, vejamos:
1. Água amarga (1 5,22-27): falta de água para beber.
2. O maná e as codornizes (16,1-36): necessidade de comida.
3. A água da rocha (17,1-7): outra vez, a falta de água.
4. Guerra contra Amalec (1 7,8-16): conflitos com outros povos.
5. Encontro de Jetro com Moisés (18,1-1 2): o sogro de Moisés, sua esposa e seus dois filhos vão ao encontro de Moisés no deserto.
6. Descentralização do poder (1 8,13-27): nova organização do povo.
Esses textos contêm memórias das dificuldades vivenciadas no deserto. No entanto, é possível observar algumas repetições; por exemplo, há dois relatos sobre a falta de água. Percebemos informações que causam estranheza: por exemplo, no capítulo 4,20, por ordem de Javé, Moisés, sua mulher e seu filho voltam para o Egito, mas, no capítulo 18,2, a mulher e os filhos — que agora são dois — estão em Madiã.
Afinal, qual é o nome do sogro de Moisés: Raguel (2,16-18) ou Jetro (4,18; 18,1-1 2)? Os dois são apresentados como sacerdotes de Madiã e como sogros de Moisés. Outra questão que podemos observar é a insistência na observância da Lei, tema que não é próprio da realidade do deserto.
Situando o contexto do texto
Para compreender um texto bíblico, é fundamental saber a época em que ele foi escrito e como foi o processo de redação. O livro do Êxodo preserva uma memória antiga, mas grande parte desse livro foi escrita no período do pós-exílio, por volta do ano 400 a.C. Nesse período, a observância da Lei de Deus era central.
A insistência na observância da Lei aparece diversas vezes nos textos da caminhada no deserto. Em 15,26, após o relato da cura da água, lemos: “Se ouvires atento a voz de Javé teu Deus e fizeres o que é reto diante dos seus olhos, se deres ouvido a seus mandamentos e guardares todas as suas leis, nenhuma enfermidade virá sobre ti, das que enviei sobre os egípcios. Pois eu sou Javé, aquele que te restaura”
No capítulo 16,4.28-29, o texto insiste na observância da Lei e específica a exigência de guardar o sábado. No capítulo 18,16.20, lemos: “... e lhes faço conhecer os decretos de Deus e as suas leis. Ensina-lhes os estatutos e as leis, faze-lhes conhecer o caminho a seguir e as obras que devem fazer” Porém, é importante perceber que, conforme a narrativa, Moisés só recebe a Lei mais à frente, no capítulo 19.
Outro tema característico do pós-exílio, também relacionado à Lei, é a exigência de guardar o sábado, o que se repete várias vezes no capítulo 16. No capítulo 15,26, aparece a teologia da retribuição: se o povo for obediente à Lei, ninguém ficará doente. Essa compreensão teológica é típica do tempo de Esdras e Neemias (450-398 a.C.). E, por fim, o preconceito contra os estrangeiros, que aparece na guerra contra os amalecitas (17,8-16). Esses elementos comprovam que grande parte dos textos de Êxodo 15-18 foram compostos no período do pós-exílio, por volta do ano 400 a.C.
Entendendo a organização do pós-exílio
Mas o que é o pós-exílio? É o período que começa em 539 a.C., com o fim da soberania da Babilônia e o início da dominação persa. Em 538 a.C., os judeus exilados na Babilônia recebem a permissão do império persa para voltar e reconstruir o Templo de Jerusalém, o que acontece em torno de 515 a.C.
Por volta de 445 a.C., o Templo já está em pleno funcionamento, mas é insuficiente para a reorganização e o controle do povo. Por isso, os persas enviam Neemias, um judeu educado na corte da Pérsia, com a missão de reconstruir os muros da cidade de Jerusalém e de organizar a economia de Judá. Dentre as suas reformas, destaca-se a tentativa de santificar os judeus como povo eleito, eliminando os estrangeiros, especialmente as mulheres (Ne 11,23-27). Ele ainda institui o tributo para o sustento dos sacerdotes e reforça a observância do sábado (Ne 13,10-22).
Em seguida, por volta do ano 400 a.C., os persas enviam Esdras, um sacerdote-escriba e doutor da Lei (Esd 7,11-12.21), que promulga a Lei como lei de Deus e do rei (Esd 1,25-26). Nesse período, o código de pureza e o da santidade sacerdotal são retomados, ampliados e aplicados para todo o povo (Lv 11-26). Com a lei da pureza (Lv 11-16), todos os aspectos da vida das pessoas são colocados sob a jurisdição dos sacerdotes. A maioria do povo é explorada pelo império persa e pelas elites dirigentes de Judá (Ne 5,1-5).
É no tempo de Esdras que se dá a redação final do livro do Êxodo. Assim, podemos entender o porquê da insistência da observância da Lei, de Deus poderoso aniquilando os inimigos de Israel, e a exclusão das mulheres do cenário sociopolítico, econômico e religioso. São temas e compreensões teológicas do pós-exílio que foram inseridos na caminhada no deserto e atribuídos a Javé. Mas, nas entrelinhas de Ex 15,22-18,27, podemos encontrar a memória da partilha, da solidariedade e da experiência de um Deus que caminha com o povo.
O Êxodo é um acontecimento sempre vivo. Deve ser lembrado sempre. É a história de um povo a caminho. Um ensinamento que deve ser celebrado de geração em geração (cf. Ex 13,8-9). Ao recordar a história, cada judeu deve se sentir como alguém saído do Egito. Que a leitura e a meditação das narrativas da caminhada no deserto possam trazer novas luzes para a nossa vida. Vamos caminhar juntas e juntos, renovando a certeza de que Deus caminha conosco!
Lembretes para as reuniões
Eis aqui algumas sugestões práticas para você preparar os encontros:
• Preparar bem o local do encontro; é importante que aconteça nas casas, pois será uma forma de reviver o espírito missionário das primeiras comunidades.
• Verificar a necessidade de providenciar, anteriormente, algum material para o encontro.
• A coordenadora, ou o coordenador, em todos os encontros, deve fazer acolhida carinhosa, dando especial atenção às pessoas que participam pela primeira vez.
• Se o encontro for numa casa, agradecer à família que acolhe o grupo.
• Motivar as pessoas a trazer sempre a Bíblia.
• Não é necessário responder a todas as perguntas que são apresentadas no roteiro.
• Ver o DVD: A caminhada no deserto. Uma chave de leitura para o livro do Êxodo 15,22-18,27. Centro Bíblico Verbo e Verbo Filmes.
PRIMEIRO ENCONTRO
DEUS ESTÁ PRESENTE EM NOSSA CAMINHADA!
TEMA: Deus está presente em nossa caminhada!
PERSONAGENS: a comunidade, Javé, os anciãos e Moisés.
TEXTO: Ex 17,1-7.
PALAVRAS-CHAVE: água, sede, murmurar, clamar, apedrejar, vara e rocha.
PERSPECTIVA: Reavivar em nós e em nossas comunidades a certeza de que Deus está sempre em nosso meio, especialmente nos momentos em que murmuramos contra as realidades de injustiças e buscamos viver a solidariedade e o compromisso com a defesa da vida em todas as dimensões.
“Eis que estarei diante de ti, sobre a rocha (em Horeb): ferirás a rocha, dela sairá água e o povo beberá!” (Ex 17,6)
1. Preparar o ambiente
- Colocar no centro uma Bíblia, vela, flores e uma vasilha com água.
- Escrever numa cartolina o tema do encontro.
2. Acolhida
Dirigente: Com muita alegria, vamos iniciar a nossa caminhada pelo deserto de Israel e pelos desertos de nossas vidas. Em muitas passagens, o deserto é o lugar do encontro com Deus. É lugar de receber novas forças para a missão. Vamos fazer a nossa experiência de deserto por meio da Palavra, que está na Bíblia e na pessoa de cada irmã e irmão. Com alegria e entusiasmo, cantemos:
Oi, que prazer, que alegria,
o nosso encontro de irmãos! (bis)
É óleo que nos consagra, que ungiu teu servo Aarão. É como um banho perfumado. Gostosa é nossa união!
Orvalho de alta montanha que desce sobre Sião. Sereno da madrugada.
Gostosa é nossa união!
Senhor, tu nos abençoas, e a vida vem de porção. É vida que dura sempre.
Gostosa é nossa união!
Ao Deus de todas as crenças, a glória e a louvação. No amor da Santa Trindade. Gostosa é nossa união!
Dirigente: No desejo de que a nossa caminhada seja feita em clima de amizade e liberdade, vamos nos apresentar. Cada pessoa pode dizer o nome e qual a motivação que a trouxe até aqui. Encerrar este momento com o refrão de um canto.
Dirigente: Sentindo-nos em casa e em família, vamos acolher também a presença de Deus que já está em nosso meio. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Dirigente: Neste tempo, vamos aprofundar os textos de Ex 15,22-18,27: são as narrativas da travessia do deserto. Serão cinco encontros para caminharmos com o povo de Deus de ontem e de hoje, nos quais refletiremos sobre a falta de água (Ex 17,1-7); a falta de alimentos (Ex 16,1-3.12-21); a guerra santa (Ex 17,8-16); a família (Ex 18,1-12) e a centralização do poder (Ex 18,13-27). Se puder, desenhar um caminho, em papel Kraft ou de outro tipo, e nele colocar os temas e as citações.
3. Motivando a conversa
Leitora ou leitor 1: A água é fundamental para a nossa vida. A falta momentânea de água causa muitos transtornos. Quem vive em regiões secas sabe o que significa não ter água. É doído. Tudo fica estorricado e sem vida: pessoas, plantas e animais. Todas as formas de vida dependem da água. Ela é um bem precioso e em muitas culturas é considerada sagrada. O Brasil é um país rico em água. No entanto, os mananciais estão mal conservados, alguns estão em extinção e milhares de fontes estão envenenadas por agrotóxicos utilizados na agricultura ou por esgotos domésticos ou detritos industriais.
Dirigente: No deserto, onde há escassez de água, uma dificuldade muito comum é o racionamento da água e a sede. Numa casa, o que significa não ter água? Como nós utilizamos a água? Como nos sentimos diante de rios, córregos e fontes que estão secando ou sendo inutilizados pela ação humana? Tempo para partilhar.
4. Situando o texto
Leitora ou leitor 2: As narrativas da travessia do deserto descrevem a falta de água em 17,1-7: o povo murmura contra Moisés, que clama a Javé, e a falta de água é solucionada. Essa murmuração representa as muitas queixas do povo por mais vida ao longo da história de Israel, especialmente no tempo pós-exílico, em torno do ano 400 a.C., quando o texto recebeu a sua forma final. Nesse período, o povo era governado pelos sacerdotes através do templo e da Lei. Os códigos de pureza e de santidade (Lv 11-15 e 17-26) determinavam quem era puro e quem estava impuro. A pessoa impura não participava do Templo e da vida comunitária, e só voltava a participar mediante o sacrifício de purificação. A multiplicação de sacrifícios e os muitos dízimos aumentaram a pobreza, o endividamento, a discriminação e a exclusão, gerando muitas queixas no meio do povo, como as murmurações do povo por falta de água e de vida (cf. Jó 24). Nesse contexto é escrito Ex 17,1-7 para responder à dúvida do povo: “Está Javé no meio de nós, ou não?’:
5. Leitura do texto
Dirigente: Na certeza de que a Palavra de Deus é força em nossa vida, cantemos:
É como a chuva que lava, é como o fogo que arrasa. Tua palavra é assim: não passa por mim sem deixar um sinal.
Leitora ou leitor 3: Ler Ex 17,1-7.
Após a leitura, cada pessoa poderá repetir a palavra ou versículo que mais lhe chamou a atenção.
Dirigente: Para conversar
a) Quais são as murmurações do povo?
b) Como Moisés exerce a sua liderança?
c) Qual a resposta de Deus ao povo?
6. Iluminando a vida
Leitora ou leitor 4: Acreditamos que o projeto de Deus é que todas as pessoas tenham vida em abundância. Um fio que corre na história do povo de Israel é a certeza de que Deus caminha junto com o seu povo e ouve o seu clamor. Um Deus que se faz presente em nossas murmurações por mais vida e justiça.
a) Quais são as situações que nos oprimem hoje?
b) Quais são as nossas murmurações e como procuramos resolver as nossas dificuldades?
c) De que forma Deus se manifesta em nossa caminhada?
7. Celebrando a vida
Dirigente: Neste momento, vamos nos lembrar das dificuldades do povo no pós-exílio (fome, endividamento, perda da terra, escravidão, pobreza etc.). Pensemos também em nossas dificuldades hoje. Está faltando a água da vida — a bênção de Deus — em muitas situações. Cada pessoa poderá se aproximar da vasilha com água, colocar as mãos e dizer, em voz alta, qual a situação em que ela deseja que Deus esteja presente. Após três preces, cantar o refrão:
É como a chuva que lava, é como o fogo que arrasa.
Tua palavra é assim, não passa por mim sem deixar
um sinal.
Dirigente: Encerrando o nosso encontro, peçamos ao Deus da Vida que nos ajude em nossa caminhada e que possamos reafirmar nosso compromisso com a construção do Reino de Deus. De mãos dadas, rezemos o Pai-nosso.
8. Preparar o próximo encontro
Dirigente: Para a próxima reunião, ler Ex 16,1-3.12-21, e quem puder leia as orientações em preparação ao segundo encontro. Se tiver alguma dificuldade em ler, pedir ajuda a uma pessoa próxima.
- Distribuir as tarefas, combinar a data e o local da próxima reunião.
- Trazer um pão para ser partilhado no grupo.
9. Gesto concreto
Ao nosso redor há muitas pessoas com dificuldades concretas. Fazer uma coleta de alimentos e partilhar com alguém da comunidade ou do bairro que está vivendo em situação de dificuldade. Ir até os rios próximos de nossa casa, tomar conhecimento da situação e descobrir como podemos cuidar melhor do meio-ambiente.
10. Bênção final
Dirigente: Que o Deus da Vida, da ternura e da compaixão derrame sobre cada um de nós as suas bênçãos.
Todas/os: Amém!
Para aprofundar o tema deste encontro, leia as páginas 21-36 do livro A caminhada no deserto. Entendendo o livro do Êxodo 15,22-18,27, editado pela Paulus em 2011.
O material deste encontro e também o livro indicado foram preparados pela equipe do Centro Bíblico Verbo.
O CENTRO BIBLICO VERBO é um centro de estudo que está a serviço do povo de Deus, desenvolvendo uma leitura exegética, comunitária, ecumênica e popular da Bíblia. O Centro Bíblico oferece cursos regulares de formação bíblica em diferentes modalidades e presta assessorias às dioceses, paróquias, comunidades, colégios e congregações religiosas. Maiores informações pelo tel. (11) 5181-7450. Nossa página: www.cbiblicoverbo.com.br.
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